quinta-feira, 6 de maio de 2010

A Cobra grande de Alenquer¹

“Bem ou mal é marca de cada uma daquelas cobras”.

(_ É verdade, que em Alenquer existe mesmo uma cobra grande?)
- É. Existe sim. E que ela sempre teve duas, agora. Teve duas irmãs.

A mãe, um dia, foi a hora de meio-dia, na beira do rio. Então, sentiu uma dor no ventre. Aí, aí, com aquela dor no ventre, foi, foi e foi... Aquela arrumação toda foi num curandeiro. Disseram que era a mãe d’água que tinha flechado ela. Então, ele disse que era só esperar ela ter o bebê e que iam ser dois. E, sim, quando ela teve os filhos...
Aí, de dia eram criancinhas e de noite viravam cobras. Então, nessas horas, ela dava mama pras [ cob...] , pros filhos dela. E eles começaram a chupar ela, né. E eles começaram a gemer. Quando o marido dela abria a porta pra ver, aí, eles viravam criancinhas, de novo. Aí, então, ela cansada dessa arrumação, foi no curador. Aí, ele foi, mandou ela deixar no sol quente as duas coisas. Ela deixou. Aí, estava muito quente essa hora. Na hora que ficou bem quente, elas viraram cobrinhas. Aí, o curador disse:
“_ Pode soltar na águas”.
No que ela soltou dentro d’água, aí, eles deram o rabinho, né, dando tchau pra mãe deles. Ela disse:
“_ Vão com Deus, meus filhos, Deus abençoe vocês”.
Foi embora.
(_ Mas, faz muito tempo isso? Foi na origem da cidade de Alenquer, ou foi recente?”)
_ Foi no início, eu acho que foi no início que aconteceu tudo isso.
Aí, então, aquelas cobrinhas foram. O Noratinho era bom. A joaninha já era má. Só queria fazer o mal. Então, uma vez, ela foi, tentou derrubar... tentou derrubar a canoa. Derrubou a canoa, e ela comeu a moça. Então, o irmão dela, ficou muito chateado, foi e brigou com ela. Aí, ela tentou comer ele e ele não deixava. Foi e brigou com ela e furou o olho dela. Então, ele apareceu no sonho da mãe dele e disse:
_ Mãe, o que eu faço com a minha irmã, se ela só tenta fazer o mal e querer me comer.
Ela:
_ Meu filho, faça o que você achar melhor. O que você fizer está bom. Não deixe que ela faça mais maldades, não, na cidade.
(_ Mas, faz muito tempo que aconteceu dessa cobra comer essa garota? Era uma pescadora? Então, quer dizer que ela comeu, virou a canoa e comeu, foi isso?)
_ Foi isso aí. Ela virou a canoa e comeu a moça. O irmão dela não gostou do que ela fez isso e ficou chateado. Então, resolveu aparecer no sonho da mãe dele, para conversar com ela, para ver o que ele poderia fazer. Porque a moça ia de travessia pro outro lado.
(_ Quer dizer , que ele tinha o poder de vir, à noite, no sonho, conversar com a mãe dele, sem ser transformado em cobra?)
_ Isso, ele poderia ir no sonho dela. Ela também poderia né. Mas ela só pensava em fazer o mal e, por isso, não dava dela chegar até lá. Era no sonho. Ele não, como ele era bom, tinha um coração de gente, mesmo, ia no sonho da mãe dele. Ela não queria saber de ir com a mãe dela. E, aí, portanto, ela começou a fazer o mal. Aí, ele não quis, aí furou o olho dela, né, como eu já disse. Aí, foi e apareceu, de novo, no sonho da mãe deles:
_ Aí, mãe, o que eu faço com a minha irmã? Ela tenta fazer mal, querer me comer.
Aí, ela disse:
_ Eu não sei. Faça o que você achar melhor.
Aí, foi. Lutou, um dia, com ela, bastante mesmo. Aí foi que matou! Conseguiu furar o outro olho dela. Aí, furou. Prendeu ela numa... Aí, arrastou ela, até que prendeu ela debaixo de uma cidade, que é a cidade de Óbidos. Prendeu lá e contratou um jacaré de dois metros para ficar alimentando ela, enquanto isso ele tentava se libertar dessa doença, tentando se libertar. Mas não achava quem fizesse isso para ele. Aí, ele perguntou para um cara, mas ele não teve coragem. Até que um dia ele, rodando muito, cansado já de estar nessa vida, estava ficando muito velho.
(_ E essa doença que você fala, era que ele era encantado, né. Ou seja, ele procurava alguém para desencantá-lo, é isso?)
_ Isso aí. Ele era encantado e não voltava daquela doença que ele tinha né. Então, tentava se libertar e não tinha como. Até que ele achou esse soldado de coragem, mesmo. Aí, foi só que ele já estava velho e rabo estava ficando muito grosso. E cada vez ele ia crescendo. Então, quando o soldado foi lá, disse que não teria coragem, porque não tinha força para cortar o rabo dele. Estava muito grosso. Ele foi e sumiu no rio e nunca mais foi desencantado.
(_ Isso quer dizer que essa lenda, essa história da cidade de Alenquer tem muito a ver com a cidade de Óbidos, também, ou seja, as duas cobras estavam interligadas?)
_ Eu nunca vi, né, porque a de Alenquer ficou o Noratinho, que tinha coração bom. Na de Óbidos ficou, então... a de Óbidos sempre é mau. Se mexerem a santa de lá, ela quer derrubar a cidade, que se mexer, quer derrubar a cidade.

Pesquisador(a):Clenilda C.S. do Nascimento
Informante:Francenilson Alves Caripuna
¹DH01BVcen221293-II

Nenhum comentário: